O Centro de Operações de Bombeiros (Cobom) é o setor do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) responsável pelo gerenciamento das chamadas de emergência e despachos de viaturas. Em outras palavras, cabe ao Cobom receber, apurar e distribuir para as unidades operacionais as demandas e solicitações da população mineira captadas pelo telefone 193.

O que a maioria desconhece, no entanto, é o potencial que esse departamento vem desenvolvendo e aprimorando, ao longo dos anos, para superar sua capacidade de resposta e barrar de forma prática e técnica possíveis fraudes que possam demandar o empenho de viaturas, militares e toda uma estrutura que pode gerar milhões em prejuízos para os cofres públicos.

O Cobom recebe uma gama de ligações gigantesca que requer uma gestão inteligente, não apenas para evitar empenhos desnecessários, mas também para capacitar os bombeiros militares na ponta da linha para o “pré-atendimento”, via telefone, que pode eliminar a necessidade do envio de uma viatura ou oferecer maiores chances de vida para vítimas com diversos tipos de males.  

Trotes

Os chamados trotes continuam gerando um volume descomunal de interrupções nas linhas telefônicas das instituições que trabalham com serviço de urgência e emergência. De acordo com o major Cristian Souza Santos, Coordenador do Cobom, considerando todas as categorias de trote, estima-se que quase 50% das ligações diárias atendidas pelo setor são de pequenos trotes, que vão desde xingamentos, gracejos a desligar a chamada sem dizer nada.

Para evitar empenhos desnecessários, a equipe de militares é treinada para entender bem a necessidade de quem está do outro lado da linha e, principalmente, identificar malícias de infratores. De acordo com o major, o que mais conta nesses casos é a experiência que o militar adquire com o tempo. 

Mesmo com um protocolo rigoroso adotado pelos militares do Cobom e, na incerteza de ter de fato alguém necessitando de atendimento, pode ocorrer empenhos de viaturas, o que  gera prejuízos desmedidos, onerando o serviço público e, por consequência, a sociedade que paga os impostos. 

O chefe do Cobom destaca que calcular as perdas geradas pela mobilização desnecessária tem um valor elevado e pode causar danos irreversíveis, “se for colocar na ponta do lápis, o prejuízo chega a ser incalculável, considerando o tipo de viatura, quilometragem percorrida, hora tralhada dos militares envolvidos, combustível, e sobretudo, o sacrifício de pessoas que poderiam sobreviver se o atendimento não tivesse sido interrompido por uma fraude”, explica o major. 

Os trotes geram transtornos para os serviços de emergência, com prejuízos para toda a sociedade. Enquanto os atendentes estão ocupados com a ligação falsa, alguém que realmente necessita do atendimento fica impedido de ligar. No caso de paradas cardiorrespiratórias, por exemplo, quanto menor o tempo de resposta, maior é a probabilidade de o paciente se salvar, por isso a orientação por telefone é tão importante. 

 E por falar em parada cardiorrespiratória, não são raros os casos em que a equipe do Cobom presta os primeiros atendimentos via telefone enquanto a viatura se desloca para o endereço da emergência, ampliando, as chances da vítima até o devido atendimento médico. 

Atendimentos que dispensam empenho imediato ou definitivo

Para o major Souza, o treinamento é fundamental tanto para o devido filtro e redirecionamento das chamadas, quanto para o atendimento via 193. Em boa parte dos casos, a ocorrência é atendida por telefone, otimizando a resposta e potencializando as chances de assistências mais urgentes. 

Os atendimentos mais comuns realizados pelo Cobom são as manobras de desobstrução de pessoas adultas e bebês, pessoas com distúrbios emocionais e acometimento de algum mal. A orientação certa por telefone pode tranquilizar a vítima ou quem está ligando por socorro e ajudar a realizar os procedimentos da forma correta. O militar ao telefone também precisa manter a calma e não permitir que o ouvinte entre em pânico, a fim de dinamizar o procedimento e obter êxito na execução da técnica.

As ligações para socorro de pessoas que sofrem parada cardiorrespiratória também são recorrentes e, neste caso, o grau de complexidade do atendimento aumenta, bem como a responsabilidade de manter a calma e agir dentro dos protocolos para evitar que a vítima venha a óbito. 

O major Souza conta que boa parte desses antendimentos são permeados de uma carga emocional muito grande, tanto para os bombeiros quanto para as vítimas e familiares que estão ao telefone. O Corpo de Bombeiros recebe inúmeras ligações de pessoas que estão passando por algum transtorno emocional e nem sempre as técnicas aprendidas nos treinamentos serão suficientes. É aí que entra a experiência dos bombeiros para oferecer uma palavra de conforto, incentivo ou até indicar algum órgão público que possa oferecer o devido suporte. 

Para o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais toda vida importa e por isso mesmo nenhuma ligação séria é desprezada. O exercício de empatia, solidariedade e valorização da vida estão intrinsecamente ligados à profissão, que tem como propósito salvar e valorizar vidas, de modo a inspirar pessoas e levar esperança.