Após 17 dias trabalhando na missão de buscas e de ajuda humanitária na Turquia, país devastado por terremotos, os bombeiros militares mineiros que compuseram a comitiva brasileira retornaram a Minas Gerais no último sábado (25).

A equipe brasileira composta por bombeiros militares de Minas, São Paulo e Espírito Santo decolaram no avião da Força Aérea Brasileira, no dia 8 de fevereiro, e permaneceram empenhados nas buscas por sobreviventes até a última quarta-feira (22), quando encerrou o prazo do decreto brasileiro.

Pela terceira vez, o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), figura no cenário internacional de ajuda humanitária em países que foram assolados por desastres naturais, podendo exercer seu maior propósito que é de salvar e valorizar vidas. Mesmo em meio a tantos desafios de uma terra tão diversa e com cultura peculiar, nossos militares puderam contribuir com o resgate de entes queridos retirados dos escombros e devolvidos ao seio familiar para a devida despedida e encerramento de ciclo.

A solenidade, presidida pelo comandante-geral, coronel Erlon Dias do Nascimento Botelho, foi prestigiada também pelo deputado federal tenente Pedro Doshikazu Pianchão Aihara; pela chefe do Estado-Maior, coronel Daniela Lopes Rocha da Costa, a vice-presidente da Afas, Ana Paula Botelho e demais autoridades militares.  

O comandante-geral agradeceu a Deus e aos militares e se emocionou pelo momento tão especial que a ocasião representou: “recebemos nossos valorosos bombeiros militares que estavam há mais de 15 dias longe dos seus lares, do seu habitat natural, em prol de fazerem valer o que mais prezamos em nossa instituição: salvar! Na Turquia, em meio ao caos acometido por vários terremotos, nossos militares demonstraram que a coragem foi maior que o medo e a força foi tão grande quanto a fé, salvaram vidas e restituíram a dignidade. ”, comentou o chefe dos bombeiros.

O major Heitor agradeceu ao comando da instituição pela confiança na equipe de militares, que são experimentados na labuta dos desastres, e que cumpriram com êxito a missão. Ele também agradeceu aos familiares, aos militares do Bemad e de toda a corporação e também registrou o orgulho em compor uma equipe brasileira em uma missão internacional.

Café com o governador

Nesta terça-feira (28), os seis bombeiros de Minas que participaram das buscas na Turquia se reuniram com o governador Romeu Zema para um café da manhã na rua da Bahia, no centro de Belo Horizonte.

Depois de um bate papo com os militares, ele parabenizou a equipe: “Meu reconhecimento pelo trabalho de vocês. Essa missão gera em nós um orgulho muito grande pra nós mineiros, saber que temos equipe capacitada e em condições de fazer um trabalho tão nobre. ”, comentou o chefe do estado.

Já o comandante-geral do CBMMG, coronel Erlon Botelho, fez questão de ressaltar a expertise dos bombeiros mineiros, adquiridas nos desastres de Mariana, Brumadinho e nas missões internacionais em Moçambique e Haiti.

Missão

Seis militares do CBMMG, que integram o Batalhão de Emergências Ambientais e Resposta a Desastres (Bemad), juntaram-se a equipes de bombeiros de São Paulo e do Espírito Santo, que embarcaram para Ancara, capital Turca, por meio de uma aeronave cargueira da Força Aérea Brasileira, que levou as equipes, de equipamentos e cães.

A equipe mineira, composta pelos militares do CBMMG capitão Tiago Silva Costa, tenente Leonan Soares Pereira, sargento William Lopes Tristão, sargento Leonardo Costa Pereira, cabo Vitor Bruno Alves de Oliveira e foi chefiada pelo major Heitor Aguiar Mendonça, subcomandante do Bemad.

Nossos militares atuaram junto aos outros militares brasileiros em ações de gestão em desastres, aplicando o conhecimento de busca em escombros, além de contribuir nas atividades de planejamento e inteligência, dentre outras missões características deste tipo de evento.

A equipe brasileira se mobilizou, no primeiro momento, para atendimento à população, principalmente, no distrito de Samdamag, 30 Km de Hatay e 30 Km da Síria, epicentro do terremoto. Dezenas de sítios foram verificados pelos militares brasileiros. As edificações parcialmente colapsadas pelo primeiro sismo vieram ao chão, obstruindo vias e deixando centenas de feridos na região.

Comoção

Um dos momentos mais difíceis do ponto de vista emocional foi o trabalho de retiradas de vítimas em Kahramanmaras, em dois conjuntos de edificações residenciais totalmente colapsadas pelo terremoto, para a recuperação de duas vítimas fatais.

Os bombeiros de Minas trabalharam por sete horas na retirada de uma criança de quatro anos, infelizmente sem vida. Um trabalho extremamente difícil devido às circunstâncias da edificação, um prédio de vários andares com várias lajes sobrepostas e a criança, chamada Abidu, estava praticamente de pé. No dia seguinte, nossos bombeiros trabalharam conjuntamente com as outras equipes brasileiras na retirada do pai e do irmão do garotinho, concluindo assim a recuperação da última vítima da família.

O ato de remoção das vítimas envolve uma questão cultural muito delicada, pois os agentes de busca não podem tocar nos corpos. Somente os familiares podem encostar nas vítimas e encaminhá-los para o ritual de despedida.

O privilégio de ajudar

Algumas situações da cultura local tornaram as ações de resgate mais complicadas, além das próprias dificuldades da missão em si. No entanto, em comum, além das bagagens, eles trazem de volta aprendizados e a certeza de que apesar do peso da profissão, eles também estão cada vez mais convictos de que a missão de salvar vidas e ajudar a diminuir a dor e o sofrimento de um país assolado pela força da natureza é o mais sublime privilégio.