No mês da mulher, para muito além de flores e celebrações, é fundamental que ocorram as reflexões sobre os desafios enfrentados diariamente pelas mulheres em todo o mundo.

A reflexão permite inferir que ainda há muito a ser percorrido, mas também é imprescindível reconhecer o progresso realizado, graças ao esforço de mulheres pioneiras que desbravaram tantos campos antes restritos somente aos homens.

No CBMMG, a entrada das mulheres ocorreu a partir de 1993, inaugurando um tempo de maior equidade, isonomia e principalmente de desenvolvimento de um ambiente bombeiro militar mais plural e democrático.

Nesse sentido, como reconhecimento aos desafios enfrentados e superados diariamente pelas bombeiras militares, 1º, 3º e 7º batalhões  do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) lançaram nas ruas, nesta terça-feira (8), guarnições de atendimento operacional formadas apenas por mulheres.

Acostumada a ver guarnições mistas ou totalmente formadas por homens, a população ainda se surpreende ao se deparar apenas com bombeiras nas viaturas, que com eficiência e desembaraço mostram, definitivamente, que lugar de mulher é onde ela quiser.

A ação de hoje surge como lembrete da permanente necessidade da quebra de paradigmas e da promoção da valorização da força feminina no ambiente profissional e da preocupação do CBMMG em contribuir com este esforço.

Pioneirismo feminino em meio ao desastre

Carolina Maria Viriato Freitas. Esse é o nome da primeira bombeira a compor uma equipe de busca e salvamento em missões recentes fora do estado de Minas Gerais. Cabo Carolina fez parte da primeira equipe de bombeiros militares especialistas em salvamentos e soterramentos do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) que atuou no contexto do desastre ocorrido em Petrópolis, no Rio de Janeiro.

Das cinco operações de apoio que ocorreram fora do contexto estadual  Moçambique, Amazônia, Haiti e Bahia – esta é a primeira vez que uma mulher compõe uma equipe especializada.

Seu currículo é bastante apreciado no meio militar por ter atuado em grandes operações como Mariana e Brumadinho, além de outras grandes ocorrências como o deslizamento de terra ocorrido em 2013, em Sardoá, no Vale do Rio Doce, e que provocou a morte de cinco pessoas.

Competência, coragem e determinação são traços característicos da militar que atua há oito anos no Pelotão de Busca e Salvamento (PBS) do Batalhão de Emergências Ambientais e Resposta a Desastres (Bemad). Ela também é instrutora do Curso de Soterramento e Salvamento em Enchentes e Inundações (CSSEI), desenvolvido pela corporação e incorporado ao Treinamento de Resposta a Desastres Urbanos da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP). 

Com formação superior em Arquitetura e Urbanismo e Matemática, a militar é bastante tímida e de pouca conversa. Seu jeito reservado, no entanto, não interfere na rotina de trabalho e entre os colegas bombeiros o apreço pela militar é unânime, bem como o reconhecimento por sua valentia e dedicação em todas as missões pelas quais já passou. 

No atual contexto da sociedade em que as mulheres têm conquistado espaços de destaque e relevância, reconhecer o trabalho desenvolvido por meio de uma perspectiva feminina, num ambiente tradicionalmente masculino, contribui para projetar o protagonismo das mulheres em lugares ainda pouco explorados.

Orgulho do passado

Há quase 30 anos, surgiu a primeira turma de mulheres bombeiras militares. A chamada para o concurso previa 80 vagas e dentre outras coisas, listava “idoneidade moral e político-social, ser solteira”, entrevista junto a familiares e vizinhos, e, claro, teste físico.

Essas bravas guerreiras passaram pelo mesmo treinamento que os bombeiros da época: natação, salvamento aquático, terrestre, de altura, mergulho, ordem unida, educação física, incêndio e muito mais. Durante 9 meses de preparação em curso, elas foram submetidas às mais exigentes provas, testes de força, de resistência e de técnica. Afinal, são situações naturais da atividade.

Assim, em dezembro de 1993, as 67 primeiras soldados ingressaram no Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais. Esse ingresso teve grande influência do contexto da democratização e humanização da nova Constituição. E junto desse cenário, no caso mineiro, a inauguração do Sistema Resgate em janeiro de 1994, o início da atividade de atendimento pré-hospitalar abriu portas à figura feminina dentre os demais combatentes do fogo.